terça-feira, 25 de novembro de 2008

Cabais acabados

A consagração de todos os versos são ninguém
A percepção são simetrias comedidas de acontecer,
crimes fugazes, cores fúteis no jardim
A verdade são pinceladas cegas e alheias na paisagem,
certezas diante do passado, padrões viciados
O vento são ornatos podres, flores fúteis,
o tempo mentindo passar nas perfeições do desgaste,
feições figuradas, retratos falados do destino
O futuro são frustrações na vitrine, vitrines vazias;
as frustrações são o estar vazia, vazias, de vitrines
O movimento são incertezas palpáveis, pálatos embotados
o perder-se, inconformidades em ato para lugar nenhum
O fim são sutilezas súbitas, continuidades impossíveis,
nexos implausiveis de esperança, lapsos de consciência,
lapsos de consqüência, desmaios repentinos em mudanças...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cinza (suspiro poético)

Todo o poema tem a ilusão de que diz algo que não foi dito
de dizer que toda a gota de chuva
[é uma onomatopéia para uma lágrima cadente dos olhos de um amor angustiado, um céu sem nuvens vazio como um lampejo lépido e lugente

Todo o poema de amor tem a ilusão de dizer que ama, que foi feito para ti, o que é dizer a mesma [coisa, porque todas as coisas são um ou uma, tanto faz
e eu tão distante de ti, afastado pela unicidade da consciência da qual discorda a parte
discorde de mim, e nem peço que recordes, nem tampouco um simples acorde com que toquei [minha alma comigo mesmo sem que o tato nos unisse em ti,
numa valsa incompleta onde baila tudo, e onde não sou teu par, mas qualquer rarefação da [existência, escassa como as estrelas à noite
em meio
a alma sempre uma metade sem metade, e que, no entanto, não portanto, não se faz completa
não direi, não diga. Não deve ser dito
que te amo, pois te amo acima da asfixia da vergonha, agora que já estou morto, e já estava
Não deve ser dito
porque já foi dito e repetir e reafirmar é reafirmar que o tempo existe, e não há maior tolice do [que o tempo ou a distância,
talvez estejamos eternamente distantes e esqueças a eternidade pois a ausência de tempo não é [uma sucessão de frases com vírgulas que se lêem conforme o tempo passa

tudo já foi lido
Não há diferença em ter sido escrito, pois já terá sido lido como a ignorância da flexão verbal, [maldita inflexão do corpo como uma superfície do espírito irremovível
eu já te amei e amo por toda a vida, esta espécie de vazio sentimental que se preenche contigo, e [que no entanto nunca vi transbordar.
Tu não me amas
E nem amou ou amava, ter sido amado é a mesma coisa que algum dia sê-lo
não me perguntes, não há perguntas quando se crê cegamente em todo o tipo de crença, o [ceticismo ou o amor
e eu já descri do que poderia ser descrido ou descrito, a tua descrição poderia ser ou não ser um [clichê qualquer mas também não faz diferença
pois tu és unicamente tu, querida, minha amada que não direi imortal pela repulsa à pleonasmos. Tolo quem o disse
pois foi quem amou sem jamais entender a si mesmo ou a quem amará
e todo dia retornarei à irrelevância de existir, como um dançarino sem par opresso pela música [que o impele a dançar
Por que não dancei?
Por que o universo é uma ciranda plangente?
eu desisti de reler o revisto e revisitar, sempre revisitaria ainda que me custassem polegadas ou [quilômetros sem medida, a medida do teu olhar, o teu olhar como um crime consentido, não por [que a vítima não sofra mas por que sofre em silêncio
Não ter sido convidado é receber um convite irrecusável não por não ter discernimento mas por [não decidir como possuir nosso livre-arbítrio sem ser um mártir e todos somos
embora não concordemos e eu não sou o todo sou apenas uma parte, não um porta-voz rouco [é como existir, é como não te ter, . não ter sido tido nem não tampouco superar a posse o [meu o nosso o teu, Vossa Excelência
eis tudo o que é vil, olhe pela janela, diga o que já foi dito (em silêncio)
(nada se move)
As estrelas - Rútilo o vinho rubro que palpita o sangue a evaporar como a cartarse do éter!
Silêncio.
(o céu não se move)
Nuvem - Que me firam as estrelas, perdi tudo desde o poder chorar na impessoalidade da chuva [e a ira num relâmpago.
A justiça - O inconformismo é o casulo da sedição, um homem que descende dos homens ad [infinitum merece a ignomínia, velado como o veludo no último de meus supiros; prendam-no!
(o sol resplandece, o céu se torna limpo)
Um homem passando pela rua - Que belo dia para se ir à praia, espero que não chova!
Silêncio.
RIDEAU
Ainda existem homens felizes em dias nublados. Há ainda lágrimas em meio à chuva.
Dizer que nem tudo está perdido perdido está tudo nem tudo será fadar ao infinito
talvez
talvez nem tudo esteja perdido
Existem homens exultantes para homens tristes, não importa a proporção
Fiz eu as escolhas erradas, sempre?
Nunca tive mais certeza do arrependimento quanto do subjetivismo de gostar do verde, de te [amar e se algum dia conseguir suportar o erro, aprender dele, talvez possas tu aprender que eu [errei e reverter a tua dúvida,
tua pergunta cuja resposta foi um apelo apaixonado e desesperado como a cera derretida que [afoga o lume de uma vela.

Não existem escolhas certas nem erradas na vida, ; o problema de se viver é conviver [com as escolhas que fizemos eu e tu, quando decidimos divergir da mesma origem, na mesma [origem, pois viemos do mesmo desespero de amar.
Por quê?
Por que nada importa?
, é tudo tão simples quanto a resposta a esta pergunta cabal do universo que já foi [respondida. (morte ao tempo!)
porque eu te amo, e nem isso importa porque o que importa não importa à importância à [imprudência de dizer
de novo
eu te amo
Silêncio.
(suspiro)