terça-feira, 25 de outubro de 2011

Quando eu abrir os olhos
e tiver que enfrentar certezas,
quando eu tiver rascunhado um labirinto ao teu redor,
será que eu terei destreza
pra te encontrar de novo?

Quando eu te encontrar de novo,
será que eu estarei por perto?
Será que o tempo terá me dado por certo
a saudade,
será tarde ou demais
ou será luz porque é dia
ou porque são dias atrás?

domingo, 23 de outubro de 2011

Pas de deux

I.

Promessa:
escolha as piores palavras com cautela,
diga pra ela
que é pra provar que,
mesmo que você não consiga,
melhores não há.

Primeiro passo:
vista sua melhor roupa,
porque ocasião é tudo,
e tenha o rosto desnudo,
porque nada é o bastante.

Passo após passo:
amasse muitas folhas de almaço,
passe a alma a limpo,
rascunhe a geometria do recinto
que você pretende adentrar.

Descaso (e requinte):
faça o seguinte
- adoeça caso esteja atrasado,
endosse todo assunto
sobre o qual estiver mal-informado,
mas sempre, sempre esteja descalço no tapete.
E mais um lembrete:
a elegância é a maior virtude
dos desleixados.

Sugestão:
deixe claro o que lhe for caro,
anote o gabarito da sua vontade num bilhete.
Nunca é tarde demais
pra se ser mal-interpretado.


II.

Da capo:
seja breve,
não se esqueça
mesmo que não pareça,
o esquecimento
é a sempre melhor recordação.

Recomendação e rodeio:
tire seu melhor retrato,
raspe seu último prato
e desconfie de quem te disse
que você fica melhor de perfil.

Dispense o terno e a gravata,
não esteja formal demais,
e mesmo que você tenha sido o primeiro a sair,
peça que o deixem em paz.
Não me pergunte o porquê da saudade
ou a medida da ausência,

vamos nos banhar de segredos e
desaparecer na neblina,
contornar a chuva
pelos dias de sol.

Não me pergunte pra onde estamos indo,
vamos dividir o guarda-chuva,
vamos colorir o teto com as nossas constelações favoritas,
eu posso desenhar o mundo no chão se estivermos no deserto
e te cobrir nas noites de inverno.

Na falta de sorte
eu
posso ser um dado viciado.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Medo íntimo ou estampa para os lençóis

Tenho levado a memória a tira-colo
o tempo feito malha pra vestir
e o tanto que se falha pra passar
o tempo.
O sonho tem levado toda a glória de mentir, as
minhas ilusões têm os dias contados,
os meus dentes já estão cerrados esperando pra sorrir,
mas o sorriso talvez não seja resultado esperado.

Eu tenho reencenado uma eterna vitória ao despertar,
trocado de papel umas tantas vezes,
trocado o ator a cada alguns meses eu tenho
sido confundido pelo travesseiro.

A musculatura tem me roubado o mérito das intenções,
mas as palavras me vão redimir o desejo
de ser só quem se olha no espelho,
nem menos,
nem mesmo.