terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Decifra-nos ou já fomos decifrados

Embora eu tenha um olho e duas almas,
um temperamento volúvel e um pouco de calma,
minha mão me prova pouco longevo.
Devo, acrescentar, pois
décimos em décadas,
decréscimos pra depois
em versos por vírgulas que valha você,
se sabe quem.
Não é.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Volta e meia (meia volta)

De quando em quando,
ando meio-termo e mesmo,
assim,
em cima da hora,
a memória me trama tempo todo
tédio
e passado.

De vez em vando,
vai ver que tanto voz
ou eco,
temporal e atraso,
no nosso caso,
são um só.

De sorte em sobra,
sabe,
sou um nó,
no teu pente.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O pôde-ser ou quase-nada

A diferença faz que tanto nada nem que por pouco seja muito mal de ser de sobra
E estando sóbrio, o todo é tudo a mesma coisa adormecida sobre si que se é
Arregalado consciência pelos poros e engolido saliva pela vontade
É que se está disposto a soluçar a eternidade para fora parece, ao que
Ponto-o-pode-ser-fim, é talvez terá.

Se o mundo, que é sonho por extenso, degrau após daonde veio e sobre
Sei daonde vim de volta e meia me indagar da saída-lá-se-sabe
Quando quaisquisermos começo - o quer dizer algum lugar
Pra onde ir de novo?

E que contar tudo é uma predisposição a perder a conta, vista de
Quando de vez a mão vazia logo o logo a ser perder quem é se
Soar é ser do que mais sabiamente acorde, estar de acordo
De que o infinito é a música dos algarismos.

Nós, que, o nada é a silhueta dos abismos, o laço-quase
É partir-se o pôde debruçarmos adensando a janela
O corpo-fora dela, a alma saboreando a vertigem
No gosto figurado do chão pelo sim.

E no comigo que não é o caso cabe deixar-só
- O singular em serpentina, o por, acaso, crase
Engasgada grito verbo-no-vadio vai que ver sabe quem
O sabe-tudo é certeza em desacordo com precisar-se se
Pra se deixar tudo lá é necessariamente nesta ordem,
Nenhuma.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Despida de vermelho

Tudo significa no escuro
estar deitado,
ou pode ser que
o escuro dependa de você
estar deitada,
e pode ser que
isso signifique alguma coisa
alguma
se você estiver deitada
de vermelho.

Nada significa estar escuro no
vermelho
é um voto
que se despe
pra quebrar,
mas isso depende de você
estar deitada
de vermelho,
de há pouco
justo agora
basta
estar despida.

Já que o tato
é tanto fazer
ser eu
ou ser você,
afague a luz
e simplesmente se esqueça
de se estar deitada
de vermelho.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

não necessariamente nesta ordem

1.

a metáfora é uma predileção inconfessa do real
em se desfazer acontecer
- lenda-de-qualquer-lugar,
venda vazada pelo breu
tateado por dentro pelos olhos.


2.

o sentimento é a queda propriamente dita,
não a sensação de estar caindo.


3.

despedir-se com um abraço é cair pelo avesso


4.

o vocativo é o corpo-a-corpo da palavra.
a poesia é apenas a linguagem num empate.

sábado, 3 de julho de 2010

Porque dizer o óbvio é duvidar dele (elogio)

Amor,
amar é conceber a diferença como parte de si:
eis que estou aqui uma mistura bifásica de eu e você
e que até nas partes que sou é um pouco de ti.

Minha alma tem vista pra janela.
Não resista quando aquela varanda te fizer duvidar da queda.

Sabe,
se a inteligência é uma espécie de instinto da razão
um pouco mais de vinho tinto não nos pode fazer mal.
Desencontrar-se é a maneira casual do destino nos convidar para sair,
vez ou outra;
e eu peço que você não se esqueça de passar batom.

Bom,
pode ser que alguém saiba o que eu não sei dizer,
mas é que tudo fica tão mais bonito quando não é dito,
desde sempre.

Acima de tudo,
esqueça o precipício embaixo do tapete.

- E não leve isto como um elogio.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Quasares ou o que quiseres

Eternamente supérfluo no sofá
vem a toa tédio a tona no tempo (é o que há)
viver-se no congestionamento

Superficialmente diáfano no aço
o universo é o desembaraço predileto
dos meus fios de cabelo

Monotonamente frutífero no espaço
o que me impede de dar um passo
é que o infinito se espreguiça adiante
toda vez em que sinto cansaço.

(o bocejo raso é a razão
pela qual todo prazo se esgota)

Um cataclisma me espera na ponta dos pés
além da fronteira do carpete:
a verdadeira revolução
só irrompe na hora marcada.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Azáfama

A luz quando engasga nas persianas é poesia de fresta,
o amanhecer, sombras em festa,
o que foi
pelo sim,
pelo chão.
O tapete, talvez.

Sobressalto sujo,
serpenteio restos de rei do rodapé,
soberano dos rótulos arrancados
e das embalagens vazias.
Destoo na sala de estar,
porque estou aqui
- embrulhado marulho na varanda,
embalado vai-e-vem no ir e vir.

Corredor escorrido pelos dedos,
esganiçado súplicas-de-parede
o ouro branco de aluvião do lençol
é quase o poema que eu tinha pra escrever.

sábado, 8 de maio de 2010

Poema de ocasião ou, simplesmente, grito (ocasopoesia

e que se contorce cair palavra pelas beiradas,
berlindas de razão (era só
pra dizer só você
que você está linda hoje)
nos vultos do verbo, nos opacos nós do sentido
nós opacos há pouco,
mê dê um beijo e o ensejo
que é você sou eu estar aqui
e ali
ao mesmo tempo,
na trama do teu vestido
na teima que me tira o verso,
na mentira das ocasiões
- vamos celebrar qualquer coisa
que não seja)

domingo, 25 de abril de 2010

N-vezes

A tinta está em transe no traço
qualquer
que se atreva (trevo de tantas n-folhas de papel)
ti
tu
tal
vez
tituberrar (vo-
cê)
tudo-tropeço

se ousabraços
- consoante nos laços da vogal

a poesia pelo chão
você ao pé da letra
súbita
sábia
sabida
certeza,
não é?
você?

terça-feira, 6 de abril de 2010

É pra já, mas ainda acabou

Se é pra já,
tá aonde
é que tá?
Não responde...

Mas vem cá,
cá pra longe
- nós pra lá
pra nós. Donde?

Vem que vem,
se não veio
foi que nem

eu tô cheio;
vai-e-vem
fica feio.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Cosmosséia

Cabe à transitividade das proporções dar-se por corpo e gesto, embaralhados comumente por alma, pelas bordas;

Donde a natureza de se estar lotado se faz transbordar, por onde se encadeia paixão e afeto entrelaçados como água e sedimento;

Segue-se por decantado o encanto a necessidade verbal da sensação ser sóbria em que é simplificada;

E precisamente o segredo assume a forma linguística do sentimento, bem como a repetição é o vício em estado bruto;

Inaugura-se por hábito dar-se linearidade a estar parado e há de simplesmente haver por que;

Das razões os rastros, causa e refeitos, rarefatos flores para 'o que fazer com?' ao fim e desfaço;

Por fazer o frio, o calor e desencaixe pela etiologia da iminência como qual o quê, sabe?;

O dissabor-supresa e suar frio sem saber o quê qualquer, o outro de não ser alguém, conjugado par caos e efeito;

Pela paridade induz-se a simetria, sermos, ímpar pode e pausa, presença e claramente temer a morte é temer-se só;

A vida no contraste-se de ver, frasco e vazio, engarrafamentos desalentos e acalantos de cidade à noite, o não;

Simples em dissipar-se, dissidência por onde é claro bipartir-se, a cissiparidade das estrelas e universo, vasto;

Portanto infinito, números, virtudes, lógica e imagem por onde se acomodarem cônjuges da clarividência;

Enfim, a cegueira em que se alastra o escuro que é a intuição, por onde é esquecer, e finalmente é recomeço.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Lembra? (pêndulo)

O charme a que se chama
a chama extinta; o grito se faz
finta, a armadilha por sensual em convite
para entrar:
- por favor.

Firme; fira, a que se refira veneno
veia veio víbora e vil não o
ardil do gesto; o resto é
predicado do desleixo a cobra
para coral da cor e imaginar de
cor é ter certeza
só.

Embalo badalo das três é outra
vez vendo vindo a se passar passeio
por
si próprio para pára raio pode o
sono simples em sino oscilo Sul
ceder, demais

(E o isso é tudo mais que se pode dizer no ensejo perfeito...)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Na multidão é que parti meus abraços ao meio
e tirei-a pra dançar pela metade
de novo.

No uníssono fui quem ecoei e
além da voz que se me fizeram olhos míopes e espelho,
jogados.

Em resto afiz-me um retrato e,
de rosto, pendurei-me na parede,
de novo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ravina

Se a cor detém impressões por nomes próprios, que me deixem atender por verde-doravante;
a que o poente foi batizado absurdo provável ladeira abaixo.

Mesmo quando se sabe que a sombra é um conclusão precipitada, já estivemos todos ávidos pelo breu;
como pinceladas incumbidas de realidade certa.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Anti-horário (fábula)

Desde que o relógio tem meditado sobre as horas é enquanto, por pouco tempo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sobremodo

Dei-me por conta na subtração de tudo, inusitadamente
existi por cócegas vazado de luz

Fiz-me potável quando derramado,
por entre meus dedos,
deixei-me por deitado poça
depois
, vontademente

Desde-me por desalinhado com o tempo
por enquanto

Estive paramentado susto no perigo, pouco, pranto,
fui pacto do espanto
entre a necessidade de engolir o choro e perguntar por quê
pára.

Projetei-me para fora na esperança de estar vazio:
rachei-me por vidraça e
fui pisoteado feito tapeçaria barata

Fantasiei-me por nova dor e me travesti por verso
no anteparo das sensações

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Vênus em veludo

Festeje das minhas sensações comuns
comedidos quaisquer e quem mais
nos estamos saídos de fino do recente
-mente...

saboreie a desistência da minha línguagem
a idiomática das minhas digitais de
o interrogativo do abraço
e me exclame;

serpenteie-se a vontade
pelagicamente sentimentos
afogos-de-artifício

despenteie seus hábitos
e desrepente dê de lábio comigo
ou em vinho deveras
mente.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O princípio da incerteza

Da extravagância sutil no dizer respeito repente
- a realidade itinerando íngreme e fabulada em desfazer de conta
: tudo é mesmo no vai-e-vem precário das coisas

o verso é uma aproximação do óbvio
quanta desmedida realmente.