sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Monomania (passatempotanto)

o encanto é ser numeroso
te contar ir e vir de pensamento a passeio, primeiro
que anseio prático de muito ser pouco e
memória ser mobília o
sonho ser tanto quanto
desfizer a pedra em praia a onda
que é vai-e-vem o quantas vezes você for;
entenda

o assunto é ser sucinto
te confundir recinto o teto o tato
que receio é labirinto e mapa
e a razão é quem jura pela régua
que o contato é
uma forma de aproximação

o tempo é estar de volta
te insistir no ponteiro
é estar mais que por inteiro
apaixonado pela hora
consecutivamente demora
dançar-se com o relógio
relento relâmpago breu

o par é estar de pé
sou eu te empunhando como travesseiro
madrugadas a fio o desafio
é meu de fazer chover se fazer esquecer
que seja que fui quem é
já sou o mesmo que
recomeçou

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Quando eu abrir os olhos
e tiver que enfrentar certezas,
quando eu tiver rascunhado um labirinto ao teu redor,
será que eu terei destreza
pra te encontrar de novo?

Quando eu te encontrar de novo,
será que eu estarei por perto?
Será que o tempo terá me dado por certo
a saudade,
será tarde ou demais
ou será luz porque é dia
ou porque são dias atrás?

domingo, 23 de outubro de 2011

Pas de deux

I.

Promessa:
escolha as piores palavras com cautela,
diga pra ela
que é pra provar que,
mesmo que você não consiga,
melhores não há.

Primeiro passo:
vista sua melhor roupa,
porque ocasião é tudo,
e tenha o rosto desnudo,
porque nada é o bastante.

Passo após passo:
amasse muitas folhas de almaço,
passe a alma a limpo,
rascunhe a geometria do recinto
que você pretende adentrar.

Descaso (e requinte):
faça o seguinte
- adoeça caso esteja atrasado,
endosse todo assunto
sobre o qual estiver mal-informado,
mas sempre, sempre esteja descalço no tapete.
E mais um lembrete:
a elegância é a maior virtude
dos desleixados.

Sugestão:
deixe claro o que lhe for caro,
anote o gabarito da sua vontade num bilhete.
Nunca é tarde demais
pra se ser mal-interpretado.


II.

Da capo:
seja breve,
não se esqueça
mesmo que não pareça,
o esquecimento
é a sempre melhor recordação.

Recomendação e rodeio:
tire seu melhor retrato,
raspe seu último prato
e desconfie de quem te disse
que você fica melhor de perfil.

Dispense o terno e a gravata,
não esteja formal demais,
e mesmo que você tenha sido o primeiro a sair,
peça que o deixem em paz.
Não me pergunte o porquê da saudade
ou a medida da ausência,

vamos nos banhar de segredos e
desaparecer na neblina,
contornar a chuva
pelos dias de sol.

Não me pergunte pra onde estamos indo,
vamos dividir o guarda-chuva,
vamos colorir o teto com as nossas constelações favoritas,
eu posso desenhar o mundo no chão se estivermos no deserto
e te cobrir nas noites de inverno.

Na falta de sorte
eu
posso ser um dado viciado.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Medo íntimo ou estampa para os lençóis

Tenho levado a memória a tira-colo
o tempo feito malha pra vestir
e o tanto que se falha pra passar
o tempo.
O sonho tem levado toda a glória de mentir, as
minhas ilusões têm os dias contados,
os meus dentes já estão cerrados esperando pra sorrir,
mas o sorriso talvez não seja resultado esperado.

Eu tenho reencenado uma eterna vitória ao despertar,
trocado de papel umas tantas vezes,
trocado o ator a cada alguns meses eu tenho
sido confundido pelo travesseiro.

A musculatura tem me roubado o mérito das intenções,
mas as palavras me vão redimir o desejo
de ser só quem se olha no espelho,
nem menos,
nem mesmo.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

textura #1

pode ser que seu nome se confunda com seu perfume
na minha memória, pode ser só haja seu perfume,
que seu nome se confunda com a minha memória, e que
as palavras assumam a feição do seu rosto,
e que eu seja capaz de soletrar seus olhos
e ter-me esquecido da cor deles.
pode ser
que
o tempo tenha escurecido a iluminação da sala,
que a decoração se torne inadvertidamente mais austera
e nossas sombras tenham tido tempo de sobra pra descansar
- o tempo, diga-se de passagem, é uma exigência da música.

o relógio pode ser que tenha sido omitido de forma premeditada,
o celular desligado ou sem bateria,
e o quadro da parede figurado pela cor da tua camisa,
e a cor da tua camisa trocada pela minha cor predileta,
a temperatura imperceptivelmente mais fria.
pode ser ainda que o homem não tivesse sido eu
que a mulher não tivesse sido você,
que a memória tenha sido roubada de um romance que não me lembro de ter lido,
que a memória seja de um poema que escrevi,
sobre uma memória que acreditei ter tido,
ou que a memória seja esse poema,
e ainda,
tenho certeza,
de como era seu perfume.

domingo, 31 de julho de 2011

Sofá-cama

Quando o poema estiver pronto,
eu certamente estarei cansado
depois de tê-lo batizado
com teu nome.

Você não terá saída:
estará perdida-
mente apaixonada por mim.
Os bons versos a terão deixado rendida,
os mais perversos, espero,
a terão deixado despida.

Quando a trama estiver pronta,
poderá também servir de cama
e permitirá que você recolha
declarações de amor do travesseiro.
A cor do lençol será também da sua escolha.

Ainda posso te garantir a melhor das despedidas,
eu deixo que você decida
quando o poema acabou.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Prêt-à-porter ou sentimento portátil

Quando,
eu vejo que há um calo no fundo da memória
e aquilo certamente vai-e-volta e como o agora regurgitando passado

há muitas boas razões pra intuir teu retrato na disposição de cores de um qualquer pôr-de-sol e/ou prever-te futuro em qualquer palma-de-mão.
E há ainda outras melhores do que razões pra se discordar de e tudo
menos do que razões pra se entregar a

E porque o tempo tem se perfilado diante da tua presença e
porque nos meus sonhos o vulto com quem me esbarrarei sempre será o teu,

o poema que eu te escrevi nunca vai ser o poema que está escrito e
todas as minhas palavras pra ti
serão uma eterna alusão àquelas que guardei.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Que eu te amo por a+b

Olha aqui,
eu vou reformular esse poema,
todos.
E este teria que ser o último,
ou eu teria que estar mentindo,
pela primeira vez.

é simples, sabe,
eu te amo no poema,
que é amar por definição,
ainda que seja possibilidade do papel passar de mão,
ainda que seja possibilidade do poeta mudar de pessoa,
ainda que seja possibilidade do poema trocar de poeta,
mas o poema é ele-mesmo,
e esse aqui,
são todos.

O que importa é que eu possa ter sido o poeta e você possa ter sido a amada,
e que esse poema tenha sido tomado emprestado agora
de todos os que podem ser.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

vou contar até 3

a noite claro caro quase escuro como encaro meu rosto entreposto atraso e azo de esquecer
o tempo me saliva na boca,
o deserto me sopra nos sonhos,
a alma me coça nos olhos
o tempo-cócega é imaginar uma ampulheta como jacuzzi

Quaresma ou quase

É na tua ausência de silhueta que teu semblante é todo,
certeza espalhada orvalho,
voz difusa de vez eterna.

É no jejum voluntário que me tateias por dentro,
no toque-de-recolher do espelho que és imagem,
na miragem que és acalanto,
e no abraço que és paisagem.

É no teu limite que recomeças,
nos teus elos que te partes,
e entre as tuas partes que és termo.