O silêncio seduziu-me as palavras
e o som decantou-se-me ao sentido
Nexos, fáceis amplexos repetidos
de há muito não os quis mais haver
Retratos me quiseram não querer
mais ver (de onde há, eu vejo)
E tanto ensejo brusco de dizer
ao vir contrário - só desejo ouvir
Rever, reter, reconhecer de novo
pela primeira vez; sei se em são
saúdo, vão em amargo, repulsivo
porque digo - deixem de se dizer
a si queixem, quero ser - sou soar
som se se esqueçam do que há
(...) aqui.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Subindo uma avenida (ficção parcial)
Conjuraria a antinomia entre som e ser
à antípoda do contraste e da cor.
A cor-pálida e o rubro rubor,
que não possui em si o alvorescer,
ou seriam isto ou seriam
a onda na falésia, olhos que faíscam.
Então a minha alma regeria
(como uma artéria pusilânime
que se espraia no chão e do fino flume
evoca toda a tempestade) uma sinfonia!
Mas todo o ar convulso
não passaria de uma brisa, dum impulso.
Quebrei os Frascos. As vozes, os perfumes
se embaraçam às nuvens, etéreos fiumes
e decantá-los me lancinaria o vinho
e a cor-vinho; precisaria os tecidos e o linho!
O preto, essência de todas as essências,
que repousa como uma Absoluta Consciência,
retornaria à congênita insuficiência
das cores primárias, presenças sozinhas.
A profusão do preto: a correspondência
entre o girassol, o sol, a cadência
de um dia e, excluído, o amarelo.
Um homem que fosse taumaturgo, desvelo
as carícias visuais de um mirante:
a torre isolada da poesia, do distante.
Vede toda esta minha prole doentia!
É a ciência parturiente da poesia!
Insisto no panteísmo tonal do preto,
ó cônjuge infame do traço reto
que risca ao infinito a razão.
(Um simples retoque: a imprecisão).
Nas oscilações mudas do contínuo
a atenção, como o laivo som dum sino,
entoa o rejuvenescer do Tom
a um sentido que transcende o bom:
ao esboço original em que o poeta visa,
nos arabescos, a potencilização da Monalisa!
A estrutura que sorve do som a Vida;
a semântico-sintaxe vogal vezes repetida.
O poeta a vê argila, líquida
- a perda de sede que torna a água insípida
é a verdadeira distorção do significado,
este altar poético vilipendiado.
Nunca perdida, o tecido da argamassa,
o sustentáculo da embriaguez, a taça.
Por mais que a carne escamoteie
a tíbia tíbia e a permeie
é impossível renegá-la - ato fugidio
-, senão como da vida o faz o suicídio.
A crise, um trauma - a fratura da alma
- o movimento rotatório de uma palma
que circunscreve um palmo. Pauta.
O descrédito do poeta, quando falta,
na iluminura imaginária do seu céu
o dissídio sádico de um escarcéu,
e a frieza de um peristalta.
No bojo da inspiração jaz o suspiro.
O ínterim que, exausto, se acomoda
na lacuna entre a sinestesia do tato e a roda.
E no vagar que é o tédio entre a noite
e a hora, repousa - um estendido chicote
- o limbo entre o poeta que poeta
filosofia, não filósofo-intermediário-esteta.
Além do horizonte, há um precipício,
onde, não houvesse fim, não haveria início.
As nuvens, os céus e os prédios
se amalgamam à percepção então vazia.
A nebulosa, astro que animalescamente cia,
faz da estrela - como o olho à lágrima - o tédio.
Morte, ó Morte, joguete celestial,
tua causa é o arrependimento universal!
Fui-aí, como um vale de avenida
em que convergem os afluentes
de uma miscelânia de líquidos comburentes!
Dois-dois rios, a Terra erodida!
O lume, reflexo do sol em lâminas,
no metal, matéria fosca, anima
as cores garridas do Nó Górdio.
Acuda-me o sabre; dêem à ciência
todas as fórmulas da paciência!
Ei-lo aqui (ó, sabre!) num exórdio.
Meu sabre perderia o fio,
se, poeta-vândalo arredio,
todo atado nó que num alexandrino
visse, logo, e alexandrinamente,
partisse. (Hemorragia à mente,
à solidão histológica do intestino).
Quando me interrompeu o sono noctâmbulo
(a vaziez da alma, a ausência de preâmbulo)
que espirrava os projéteis,
versos astutos, palavras brutas
e a dissimulação da mágoa arguta,
a estupidez do som externo; sons estes, débeis.
Uma mortralha cor-catarse,
da crueldade da decomposição, disfarce.
Uma alma finalmente veria a luz,
pois a treva não é vista, pensei.
Repouso; indiferença, por ti velei.
Poético seria ao luar de um pátio andaluz.
Talvez aí me importasse. Dizer,
não saberia; só me restava crer.
Lembro-me do som, recordo-me, sim,
gritou: " Cuidado!"; o som seguinte
foi uma condensação de vinte.
Cheguei ao destino. O destino tem fim?
à antípoda do contraste e da cor.
A cor-pálida e o rubro rubor,
que não possui em si o alvorescer,
ou seriam isto ou seriam
a onda na falésia, olhos que faíscam.
Então a minha alma regeria
(como uma artéria pusilânime
que se espraia no chão e do fino flume
evoca toda a tempestade) uma sinfonia!
Mas todo o ar convulso
não passaria de uma brisa, dum impulso.
Quebrei os Frascos. As vozes, os perfumes
se embaraçam às nuvens, etéreos fiumes
e decantá-los me lancinaria o vinho
e a cor-vinho; precisaria os tecidos e o linho!
O preto, essência de todas as essências,
que repousa como uma Absoluta Consciência,
retornaria à congênita insuficiência
das cores primárias, presenças sozinhas.
A profusão do preto: a correspondência
entre o girassol, o sol, a cadência
de um dia e, excluído, o amarelo.
Um homem que fosse taumaturgo, desvelo
as carícias visuais de um mirante:
a torre isolada da poesia, do distante.
Vede toda esta minha prole doentia!
É a ciência parturiente da poesia!
Insisto no panteísmo tonal do preto,
ó cônjuge infame do traço reto
que risca ao infinito a razão.
(Um simples retoque: a imprecisão).
Nas oscilações mudas do contínuo
a atenção, como o laivo som dum sino,
entoa o rejuvenescer do Tom
a um sentido que transcende o bom:
ao esboço original em que o poeta visa,
nos arabescos, a potencilização da Monalisa!
A estrutura que sorve do som a Vida;
a semântico-sintaxe vogal vezes repetida.
O poeta a vê argila, líquida
- a perda de sede que torna a água insípida
é a verdadeira distorção do significado,
este altar poético vilipendiado.
Nunca perdida, o tecido da argamassa,
o sustentáculo da embriaguez, a taça.
Por mais que a carne escamoteie
a tíbia tíbia e a permeie
é impossível renegá-la - ato fugidio
-, senão como da vida o faz o suicídio.
A crise, um trauma - a fratura da alma
- o movimento rotatório de uma palma
que circunscreve um palmo. Pauta.
O descrédito do poeta, quando falta,
na iluminura imaginária do seu céu
o dissídio sádico de um escarcéu,
e a frieza de um peristalta.
No bojo da inspiração jaz o suspiro.
O ínterim que, exausto, se acomoda
na lacuna entre a sinestesia do tato e a roda.
E no vagar que é o tédio entre a noite
e a hora, repousa - um estendido chicote
- o limbo entre o poeta que poeta
filosofia, não filósofo-intermediário-esteta.
Além do horizonte, há um precipício,
onde, não houvesse fim, não haveria início.
As nuvens, os céus e os prédios
se amalgamam à percepção então vazia.
A nebulosa, astro que animalescamente cia,
faz da estrela - como o olho à lágrima - o tédio.
Morte, ó Morte, joguete celestial,
tua causa é o arrependimento universal!
Fui-aí, como um vale de avenida
em que convergem os afluentes
de uma miscelânia de líquidos comburentes!
Dois-dois rios, a Terra erodida!
O lume, reflexo do sol em lâminas,
no metal, matéria fosca, anima
as cores garridas do Nó Górdio.
Acuda-me o sabre; dêem à ciência
todas as fórmulas da paciência!
Ei-lo aqui (ó, sabre!) num exórdio.
Meu sabre perderia o fio,
se, poeta-vândalo arredio,
todo atado nó que num alexandrino
visse, logo, e alexandrinamente,
partisse. (Hemorragia à mente,
à solidão histológica do intestino).
Quando me interrompeu o sono noctâmbulo
(a vaziez da alma, a ausência de preâmbulo)
que espirrava os projéteis,
versos astutos, palavras brutas
e a dissimulação da mágoa arguta,
a estupidez do som externo; sons estes, débeis.
Uma mortralha cor-catarse,
da crueldade da decomposição, disfarce.
Uma alma finalmente veria a luz,
pois a treva não é vista, pensei.
Repouso; indiferença, por ti velei.
Poético seria ao luar de um pátio andaluz.
Talvez aí me importasse. Dizer,
não saberia; só me restava crer.
Lembro-me do som, recordo-me, sim,
gritou: " Cuidado!"; o som seguinte
foi uma condensação de vinte.
Cheguei ao destino. O destino tem fim?
Descendo a avenida (ficção dual)
Como os pensamentos - sons de sereias
Ecoam como sirenes - meus pés
se ordenam em passos - vozes, revés
Vezes; vezes passos - pelos que à meia
Luz passam: isto sim uma lauta ceia,
Pensei - só as palavras mais e até;
Perdi o aceno, o homem entrou na Sé.
A alteridade e a alma meneia.
Pus-me a falar - o choro dos chacais
Do homem, o choro do homem -, faz
Só um instante, comigo mesmo
- Vermelho, pulso, verde -, se, de fato,
O tempo passa. Respondeu o eu cognato:
"Impossível". - Começou a água a esmo.
Chuva...
Ecoam como sirenes - meus pés
se ordenam em passos - vozes, revés
Vezes; vezes passos - pelos que à meia
Luz passam: isto sim uma lauta ceia,
Pensei - só as palavras mais e até;
Perdi o aceno, o homem entrou na Sé.
A alteridade e a alma meneia.
Pus-me a falar - o choro dos chacais
Do homem, o choro do homem -, faz
Só um instante, comigo mesmo
- Vermelho, pulso, verde -, se, de fato,
O tempo passa. Respondeu o eu cognato:
"Impossível". - Começou a água a esmo.
Chuva...
Assinar:
Postagens (Atom)