quinta-feira, 8 de setembro de 2011

textura #1

pode ser que seu nome se confunda com seu perfume
na minha memória, pode ser só haja seu perfume,
que seu nome se confunda com a minha memória, e que
as palavras assumam a feição do seu rosto,
e que eu seja capaz de soletrar seus olhos
e ter-me esquecido da cor deles.
pode ser
que
o tempo tenha escurecido a iluminação da sala,
que a decoração se torne inadvertidamente mais austera
e nossas sombras tenham tido tempo de sobra pra descansar
- o tempo, diga-se de passagem, é uma exigência da música.

o relógio pode ser que tenha sido omitido de forma premeditada,
o celular desligado ou sem bateria,
e o quadro da parede figurado pela cor da tua camisa,
e a cor da tua camisa trocada pela minha cor predileta,
a temperatura imperceptivelmente mais fria.
pode ser ainda que o homem não tivesse sido eu
que a mulher não tivesse sido você,
que a memória tenha sido roubada de um romance que não me lembro de ter lido,
que a memória seja de um poema que escrevi,
sobre uma memória que acreditei ter tido,
ou que a memória seja esse poema,
e ainda,
tenho certeza,
de como era seu perfume.