terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Poesia de rapina (poemapolaróide)

violado, vem, de verso e se verseja
em veja bem o foco fora de foto
faz por onde eu estive mais de bandeja
do que se por bancarrota eu estive roto

rua, raio, e trempestarde me proteja
se em minh'alma o destino estiver à venda
a troco de nada no altar da igreja
lá entre nós, eu não me esqueço da renda

sou um sempre transeunte qualquer em nós
rói-se rápido eu vivo derrente à sina
sim-milar de raspão que você nos vemos

assoprado palha estamos em ruína
se na valha destroços demais nem menos
se não calha sermos restos de rapina

sábado, 12 de dezembro de 2009

amor numa rua de mão dupla (mão inglesa)

se deixe seduzir pelo óbvio e
não
suspeite das retas - somos um atalho
por entre eu e você
sabe

estou atravessado você
está na
calçada
descalça
prêt-à-porter do lirismo
sem porquê se repetir

estou pavimentado um buquê de rosas

se deixe seduzir pelo óbvio e
não
somos retas - suspeite dos atalhos
por você entre eu e,
sabe

estou você atravessado
nesta
calçada
percalça
prêt-a-porter do porquê
se repetir do lirismo

estou pavimentando um buquê de rosas

não se deixe seduzir pelo óbito e
não

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

eu sou uma fuga a duas vozes

tenho tido suspeitas do lençol.
"você alude a tudo", e você retruca
não basta, bobagem, não é o bastante
bastantes braços
brincos e buquês, porquês sem mais mais mais

nunca mais;

tenho sido refém das minhas camisas,
a textura cor não sei não
fui andar nu numa esplanada inventada,
e lá vem você nuvem falciforme e tempestade
tarde, sem piquenique.

fui vítima da gravidade quando pulei da janela,
mas eis que te encontro no chão.

já pedi por favor,
saia do poema.
vou contar até três.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Intitulado

Na moldura evidente de você,
sou a circunstância da sombra,
incerteza em alto-relevo do grito.

Você estréia intrusa na cabeceira,
mas eu te estive esperando no porta-retrato,
desperta silhuetada na porta,
já que é meio noite.

Nos cômodos fluentes no silêncio,
nos trejeitos do contraste
e no idioma dos espelhos,
te espero na platéia dos meus lábios relidos.

Fechem as cortinas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Abajur, do francês, abat-jour, ou lótus-em-flor (poesia a mesmo)

Se admito a ficção no elevador, me deixe nos céus - sou célebre nos corredores, príncipe do pormenor no papel-de-parede, arcanjo para os íntimos sou eu somente.

Deixo a desejar por estrelas cadentes no teto, fosforescentes para os desavisados, sintéticas para os sonhadores

Desfio enredos nas persianas; tenho olheiras por excesso de realidade, e não por falta de sono.

(blecaute)

Se as lamparinas são oásis do dia, nos resta desertificar à noite, descampado qual-o-quê das horas.

Me confesso ao interruptor como quem suplica dormir.

domingo, 1 de novembro de 2009

Prosopopéia

Em poesia já morremos todos,
compactuados destino pelas palavras,
diários nos esvaziados pelos versos.

Éden dado, não tenho dito,
meu lema é o silêncio.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

tudo (culto do êxtase)

sou teu à queima-roupa da pele,
invariavelmente figurante do teu toque,
palpite das tuas mãos

sou tido desapego no teu brinco avulso
e te teimo colecionar de olho fechado,
sombra e alma fresca

sou tudo pompa no teu desleixo,
destinatário do acaso nas meras coincidências

sou atado nenhum de nós na ventania,
untado discordância em silêncios compatíveis

sou despencado três andares da existência para cair aos teus pés,
mas são teus lábios é que não querem seguir

sou desbotado cor no teu azul, séu qualquer
pausa

(está ali tanta, evidente de ser quem é)

repouso pedestre do teu sonho, quando acordo
a chuva é a verdade favorita das minhas manhãs possíveis

domingo, 18 de outubro de 2009

Saara tropical

Me tem a poesia por soluço íntimo
E um poema é pouco mais que um copo d'água.
Se a sede me calha um susto, cai-se e eu rimo,
Se o riso falha, faz-se um pouco de mágoa.

Me tenho poeta por soluço inteiro
Estou-me pra dentro, garganta pra fora.
Dos gestos de querer, a poesia é o primeiro
praticamente não sei o quê agora.

Me ignora a vida poeta por inércia
do destino ou por teimosia verbal.
Malabares do mundo, mal sei o quê

Me inundo de tudo - tapetes da pérsia,
pios, rios e janeiros de areal:
qualquer palavra que me dê de beber...

domingo, 4 de outubro de 2009

Narrativa (em qualquer pessoa)

Desatou-me nó em si
cego ou propriamente eu
outro quem sou que morreu?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Me vou banhar vestido em verso
varandas da vontade,
vendar a lua gar algum.

Como extremista da noite,
me vão fechar os olhos
tramando escuro com o tempo e todo
todos antecipados rabiscos na retina alguma.

Na posição ambígua dos princípios
eu devo por diferentes direções,
paixões passivamente,
caminhos excessivamente nenhum.

Gastos nas quinas do pretexto,
ilumina-se estreito e somos par,
sem mais nem menos.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Escadaria própria

No batismo do nevoeiro é que se existe à capela
contato contanto
as mãos lidas pelo avesso,
a alma de perfil nos olhos,
mais que ambos.

Ainda por cima de si,
a paisagem-prateleira,
vitrinistas do plausível
eu conspiro com o silêncio nas horas vagas,
por entre...
a cristaleira abstrata em que somos líquido contra a luz e.

Descamisadamente existindo,
quase entregue,
sermente,
nós dois, nem que,
por mais.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Cangarço

Eis diante patas
quem pode ser impôs
Dorme, o destino empata
ou imparprério, pois?

Ais tão, a terra em transe
tenta donar de tudo
teu a gente sem chance
e chega, jaz e já de medo
e mudo se aparvora.

Se vinga a vida é vaza
o Senhor sem não sermão
que a língua em si faz casa
e dito é dado, e deu, é Deus no aluvião.

domingo, 13 de setembro de 2009

um cortejo gratuito nas intenções, mesmo que de pontacabeça

Tem-se dito que o nome é um cognato de personalidade
não-grata e vice-versa para quem-o-quê?
e qualquer um.

A regra se tem se diz observada no enquadramento perfeito
onde reina,
quando não se conhecem os limites.
E se impõe o infinito.

(Enquanto a morte em ato reflexo resulta na experiência do arrepio,
transladado mecânica sutil nas sombras)

- um flerte gratuito por entre intenções

Que os olhos dêem de costas para o rosto,
não é mera coincidência.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Revolução violeta

meus truques se desmancham nos teus ouvidos
e vindos do que há mais do que o que foi dito,
deito tecido atrás desleixo reflito
minha vontade se absolve no teu vestido

e visto violeta, lenta, a paz no avesso
demais cúmplice cor, o branco caído
baixo sentimento e surdina partido
tomado o bordão às bordas adereço

adentro a lágrima, a flor em face, em falso
fundo eu firo e posso eu rarefeito aflito
consolo o gesto do teu rosto descalço

e chora e chove o sudário da tua face
em pele menos o arrepio que omito
a sacradança expressão do teu disfarce

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Absolutamente cortinas

Eu quero ser sofisticadamente exorcizado em todos os refrões,
quer a saber, as superstições são cotidiano por colorir-nos tarde.

Me teima de raspão pé ante pé da cama o cobertor que me escapa,
e me tira fino os ombros o peso de acordar, mal-equilibrado para frente.

Volta a fazer calor de intervalo entre a fome e sentir,
se já lá emprego meu ócio sentimental em neologismos
e não sei aonde.

Quais de que gritos obliterei o frio,
talvez tenha atropelado minha sede por cedo demais,
mas não sabia.

Em descabelado sensações,
a ritualística da manhã me teve narrado o acaso,
porque a verdadeira vida é a que se sente de improviso.

domingo, 30 de agosto de 2009

O acaso mal-dosado (lotérica)

Desponta a dianteira do acaso nas marés em que te tanjo verso de perfil.
Empata a competência dos distantes perdidos com desencontros,
E persigo na curva das causas um esbarro sem porquê, um amuleto de sorte nas segundas-feiras para se lembrar.

A sorte me reclama religiosamente oportunidades perdidas, e aqui se vai mais uma, última de vez, quem sabe?
Eu, coadjuvante do destino próprio, me posso discordar integralmente de e o faço.
Me desprecipito do azar em prazer-a-prazo, porque penso parece que ainda me posso pagar.

A este poema cabe uma dedicatória sutil, um anônimo-talvez, que mais se empalidece de você, quem pode dizer?
Teu nome recobre-se poesia de solslaio, porque todo vocativo de poeta é outra forma de afastar.
E peço desculpas se não há desculpa melhor para se simplesmente ter medo.
Enumero tentativas como se sucedem os versos e o sucesso menos que preterido é pretenso.
Querida, eu escrevo como quem joga dados.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Por fora das luzes em que é noite adentro
por aí afora, pareço pouco uma minoria conveniente com os minutos
Sinto um abandono de esquina pra depois,
as conversas-fora transcritas corredores na paisagem,
na dramaticidade e paz acolhedores de não saber por acaso.

Revolta em mim o transe quase espontâneo de dormir,
o trânsito tardio de poder ser ainda, o adereço de realidade suplicada em pálpebras,
e meio como que diante das coisas de novo eu hesito viver como se deixa seguir, sem porquê pára.
Careço de graça na violência de existir,
murro involuntário de saber porquê,
e hoje me faço chorar quase de cor por detrás do rosto.
Socorro por todas as dúvidas - só eu sei o que é estar só.
Eu imaginei todas as fronteiras para ser soberano,
memorizei as sobras de vida,
e como se colore um desenho
eu repito os dias mais por necessidade do que capricho.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Reassentamento solitário ou A política do porquê (polícia prática)

Poço licença para esbarrar versos em voga
na hospitalidade fácil dos constantes
- De antes à frente:
a neutralidade crédula de um deslumbrado
peço a passo, desfavor,
desabotoe a estupidez dos substantivos,
doe-se mar em assertivos de plural
e se afogue em nado.
E desagrade-se um desafago.

Desleixo sacolejado metáforas,
desarvorado galhos
e sobejando perdões falhos
ajoelho à insistência de um mosaico em ser diverso,
e me distraio divirto.

Soube que monomanias estão em baixa
- a voz oraculada do efêmero mo disse.

Deixo-me por pesar à disposição
medidas de biodiversidade,
tenho a alma em promoção para qualquer um
que ache que se tem que dizer tudo.
Se tenho cordas corais no verbo,
acudam-me de lâmina.
Até onde sei estive mudo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sobre valises (pontapoema)

I) Que o vento faça a curva diante de mim,
posso não ser soberano de lugar nenhum.

II) Que ache minhas divergências com a simetria,
sei que a tangente nunca é a saída.

III) Seja sempre teatral com a familiaridade,
pois que a intimidade com a redundância não é exclusividade dos objetos.

IV) Acaricie obstáculos como se coçam as sombracelhas.

V) Leia meus lábios;
minhas palavras estão na lapela errada.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Donde se induz a arquitetura da conquista

Há uma regra inscrita em você e nós sabemos por que não posso perguntar
que o prazer deliberado de transgredir é para poucos
E que posso apenas ser mais um

Pode haver uma objetividade geométrica num rodeio pois, se porventura te abraço
faço passo-a-passo o que o horóscopo propôs

Saiba que sorrio não por que desconheço o mecanismo das palavras,
mas porque o sorriso é um paraíso bruto do sentido e as estrelas passam bem

Bem sei que um adivinho e um estatístico intuitivo
Poderia escorrer algumas escolhas, mas o que faria com as certezas?
Algo me diz que não há nada o que dizer.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Provençal em três passos (tripé caído)

1.

É Norte ao longe!
(e) a sorte a seco:
ontem é um beco
que basta a onde...

Sê a consorte
do horizonte
(e) siso de fonte,
seca da Morte.

Valse uma lua,
sol-laminado,
(eu) sonho de lado
(a) morte fez tua

mata de tanto
(e) tato de pacto
e atento impacto,
morro no enquanto...

2. Maladiva

Olhares-resposta, lembra?
Outono caído por você,
você, primaveril, eu,
inverno a dois,
inferno a Deus
disse, tudo farsa de conta,
outra.
Nós dor numa moldura
esculpida memória para se andar sobre,
arder fino,
frio de identidade,
sobrenome.

Nenhum de nuvem,
sou escravo de céus azuis,
aquele
mesmo

(friso de cor
de fato
fátuo
firme)

sábado, 8 de agosto de 2009

A morte para além-luar (dança lírica)

o silêncio erotizado da noite
é suborno e lua meia e dança
doa que a dor feito adorno cansa
se alcança equilíbrio limiar ferida

e o prazer do grito é súplica fingida
fira trança fuga flor e o tempo pinga
verde em vazio soa vozes de restinga
com que sombra se conjuga outra pessoa

em parte-se sempre e entre ressoa
rés, pés. teu corpo lagoa com a lua
debaixo de uma sacada algo crua

creia, amor teia, de mais sentimento
braços de alcateia que crimes lentos
cumpro e calo palmo a calmo o que foi-te

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mas pôr que não caiba favor,
me tenha por hábito quem ama!...
S'é que da malícia do encontro
é surpresa que vingou.

Que me intérprete despido meu
soluço é vacilo
e anseio
toda crença seja certeza figurada
e mesmo, qualquer
disfarce fácil
- vícios por necessida
-de comprazer da se
-de irmanar da sombra.

Eis que eu, púlpito de diante,
em lugar algum que desconheço.
Expirado, menos que arfante, inspirando,
fiz asfixia por almejo
que a poesia é último sopro
guardado
por engolir.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Novembro (mês e meio)

Espere-me menos álibi do que agora
Manejo a precisão como desmando litúrgica mania de silêncio
e é só.
Estamos quites, eu-recíproco, esperdoado.

Estou em aberto para que se deu e reveio, vez de quando
o invejo vizinhança paro mar.

Cai-me de colo relembrança,
em braço, enlaço de pranto,
me parto, me tanto.
Sobreacordo trajado outro,
figurado cor na tua predileção
pairando perfume por não-sei-que notas
- dissolvido verde por não-sei-o-quê.

E meio.

Dá-se por descansada, outra ferida,
e tresfinjo malha pelo frio, imaginado.
Confundo mais com brisa, o ar ainda pouco viscoso para música;
a chuva impropério pra molhar.

Permeio.

Retoco-te a exageros, descanso
sigo descorrendo sobre-me,
arrimo repetindo.
Sou canhoto com a alma e
destro por interesse.

sábado, 25 de julho de 2009

A caneta me indaga mais ser poeta do que meio
intervalo, vírgula e tapete, puxado.
Sem tinta, não há traço algum.

Resvalei sensações e ridículo e repito rapto.

Os símbolos se desiludiram frágil, frio e pedem assentir porque
o ar revigorado de um motivo insistido e não me polpa forçar outro paralelismo entre ser e selvagem.

Disponho um precipício sob o tapete
e o acidente se reclama pompa,
é portanto e possível, armadilha.
Sintam-se à vontade para festejar a indução, mas não me venham com exceções.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Passeio no escuro o prazer do difícil
Incêndio, é claro, ponteio do ofício
'Té incensa de luz - saboreio ser tudo
Licença sou, será?, certeiro um intruso.

Convida-me um breu, branco e me dissolvo
Te confundo cor no castiçal, revolvo
Meia volta de mim, eu que o diga
Que te alcanço mesmo estando refletida.

Irreflito pois tudo há apesar
A cicatriz é ato reflexo do dia
E o que pede o escuro é poder adiar.

Há dias, e já que mesmo a luz esfria,
Sintoma da noite, posso perguntar:
Que mal há em ceder a uma alegoria?

terça-feira, 7 de julho de 2009

À noite em meio

Tempestades me excitam como se o céu me trovejasse por dentro
e a meia-luz me confina íntima, consumada de mim.

Deixada a cor me arrepia carícia calada,
e me deixo percorrer por qualquer sombra
Exagero um halo lampejado da boca, tanta
tremo sóbria de facilidade,
porque as sugestões são as formas mais delicadas de controle.

Me descarrego estática por fora do êxtase, atenta,
tudo me perfaz como um detalhe e me deixo silhueta.
Rarefaço sentindo plena e a chuva me percute a borda da pele
em extremidades que afundam sobras de vida como o corpo ainda estranha um vazio figurado
Dissipo a nudez para me despir de nada
E me deito fiel ao tato, quando todo dia claro me apavora.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Seduzi-me para todos os efeitos colateralmente ensaiado comigo.
Ando. Grande coisa.
Emparelho, desponto, calculado desaponto pelo sempre.
A dose de identidade com a parede não está em ser branca;
existe no contraponto da janela emperrada. Puxo por o favor, que o tudo está trancado.

(Ô de casa?)

Transições espontâneas são certamente melhores do que dietas,
o desde prolonga recomendas - ser direto, porque é nosso direito.
Mas não vem ao acaso, é nada.

De logo logo deixo o princípio mareado como quem cambaleia concluir porque.
Como quem sabe?

Apeio do inexorável. Xote derradeiro.
Congrego do apelo orgânico da iminência,
cego clarividente, abdico de déjà. Sigo.

Dessinto, artificial. Disto, mas não disto,
meio-a-meio com a coordenada da alma e o contrato do inferno,
nos perdemos em contato, manifesto de me.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Samsara

A noite é adocicada de ruas vazias,
de feito velas que irrigam a cidade de acontecer
- de se incendeiam fatos, o céu troveja como quem cospe.
Desencadeado...

Descarrilho-me como a quem foge o destino por inépcia.
Sou séptico à possibilidade como anteontem e desde amanhã.

Os vultos vulgarizam-se transeuntes,
perfilados automaticamente diante do fio da meada;
todos se espreitam como se suspeitassem encontrar.

Saiba que o Sul é um fator que raramente consta em devaneios:
derive a contabilidade da providência divina.

A luz preambula poste após poste a pés as esquinas.
Toda paralela é uma distância andável do infinito.
Os cruzamentos perambulam motivos urbanos para dilemas nos retornos;
irresoluções cotidianas como metáforas pouco-familiares
- que se contornam como quem segue reto por princípio.
Os sinais soturnos infectam a opção por se poder transgredir em benefício.
Corra como quem peca por avidez e reze contrições em trânsito.
Os prédios vergastam silhueta em azul, como se supusessem limites no detalhe.

Envergo de espetáculo diante de aplausos de chuva...
Invejo estar molhado através do vidro.

Suplico por um abraço que só uma estátua me pôde dar.

O vento viceja avenidas - venha por esforço velejar no atrito,
caia por terra no átrio de Gaia,
mas precaveja-se com uma pá.

O bordado citadino dos edifícios pode ser edificante numa civilização de gala,
mas não se esqueça de se queixar dos costumes.

Convide a cidade para jantar à luz de velas, mas esteja lá à hora marcada.

domingo, 7 de junho de 2009

Em flor

Perpetro da tua pele uma simbologia de pétala
- nada me impede
de tatuar-te de palavras.
Sopro feito arrepio aspergido sobre teu vasto,
desabrochada de intenção, arrependida, de repente.
Visto o disfarce do impossível, porque tudo pode ser,
e podemos: seja.
Rascunho das tuas veias uma linguagem intuída de decifrar-te nua
e aguço-te o tato com o toque intermitente de sussurros.
Insinuo os pecados como formas de redenção,
consinto render, deploro o perdão.

Insista no erro porque a justiça é uma forma arbitrária
de compensação do desejo, nunca me sinta reparado.
Note que os absurdos vêm à tona conforme os olhos vêem
Cale a veêmencia dos contrários como quem silencia uma criança
E deixe-se devoluta, mas se faça perder por um propósito.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Estetística

Mais de dois terços das rotas supõem um desespero pacífico
como há em 92% das retas uma obviedade instigante.
Apenas um quinto dos desabafos tem um deleite
desabado em se ter que recolher,
como temos tido em todos os casos de tragédia inevitável uma persistência irresoluta.

Há uma dormência emocional em 37% das pessoas que dormitam sobre extremos,
como indícios fortes de deterioração em abreviaturas de sentimento.

Apenas 17% das objeções passam por soluços sustados,
já que nas regiões onde faz mais frio
o índice de sustos frustrados soma quase o dobro da sobra.

Em mais de 40% das colisões verifica-se uma iminência entorpecida
pelos circunstantes, como um enleio pretendido nos fatos.

Existe uma caricatura intrigante em 89% das certezas
- é o quando não se assombra de dúvida.

Somente metade das estatísticas é confiável.
Mas em que metade estamos?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Para ver se ficaria bom

Versifique comigo, convença
Todas as convenções de sentido
Do contrário, contrario, rio
Rápido, é o mesmo - é estio.

Não há nada entre verso e presença
- É conversa, crença, desprurido.
Meu caso contigo não é prosa,
É pena, é pouco, é pouco ardilosa.

Não faça cena, eu impeço - peça
Saio de cena, cedo; vencido.
Vem cá, cá pra nós é cedo
Pr'um saldo negativo. É segredo.

Paz, entendo. Peço, se despeça,
Meço pelo mínimo pedido.
É que a lua levantou um ponto
Pertinente: estou cheio. E pronto!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Cardinais de percepção

A violência arrefece no gesto
- absolve no toque difuso da água.
Estou imerso em paz.
A paciência, o pretérito, o por quê?
Do contato resolve-nos, volve
em humores consentidos da sensação.

Quando é dos olhos respingarem ver,
desastradamente, densos, detidos.
Dentre a fresta livre que é estar
entre, tanto insuficente.
Do perfume espaçado forma física de presença,
presente à proximidade da respiração
e à futilidade da suspeita. Certo.

Porque a intenção se apieda do insensato;
a queda é transparente para quem vê
a dor como glória de se ver ao chão.
De pé.
Mas qual é a pertinência da vitória,
quando todos nos juramos vencidos?

domingo, 3 de maio de 2009

Se me perguntarem

Não perguntem, ando gaguejando meu nome.
Tenho estado muito certo de quem sou.
Na verdade, não tenho tido muita fome;
tenho tido pelo que dizem aonde estou.

Ontem mesmo, a minha sombra me procurou,
É que não me tenho visto ultimamente.
As palavras ainda atendem por eu, sou,
sei, lá, aqui - só amanhã, recentemente.

Tenho visto um talvez, assim, só um talvez,
que em sã consciência tenha vergonha, sim,
vergonha de atender à porta uma outra vez.

Pelo visto, tem-se dito que a casa está vazia:
uso capião do nada - é mais ou menos assim;
eu mesmo confirmei a informação outro dia.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Poema-práxis

I) A poesia é sutil persistir da palavra
insuspensa como deriva condicionada.

II) O som é dissuasão sublime do sentido
e o sentido que há é a leitura labial de um bocejo.

III) A música é desistir voluntariamente da imagem,
como a tempestade é dar seqüência lógica à dissonânica.

IV) A composição pressupõe fragmentos
e pode ser que não tenhamos nada em comum.

V) A intenção é apenas um veículo,
embora eu também não seja intenção.

VI) Os versos não se encaminham para baixo;
eles também não vão para lugar nenhum.

VII) O fascínio que exerce o fim é apenas outra feição da liberdade.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Clareira

A glória de se dizer é o silêncio
Caio o suficiente, certo, fácil, inquieto
Cedo, a vitória - é tarde,
cômodo da memória, é verso é ver
Revolvo meu rosto, rompo comigo,
rio rente de quem sou...
Ora, é hora de orar, sede, crê
- é o mesmo, tudo há a certeza de quem é,
ser, se é, sorte, descortinado, descortês
quer seja quem me corte, qualquer...
Mal me quer?

sexta-feira, 13 de março de 2009

Laguna

Amanhã, de hoje a noite em plena,
será que mesmo a lua vale à pena?
Será que as sombras sobrevivem
mesmo no esmo do escuro?
O pouco sentido que persiste,
posso dizer que a luz existe, intensa,
numa guimba de palavra...
Mas e quanto a iluminar?
Não se pode ver uma sombra desmanchar.

Pressinto, a parede consente me impedir.
Peço, prece, mas nada parece no escuro,
nem um grito aparece no escuro...
Nenhum.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Das pegadas desejo apenas os meus passos,
dentre espaço meço apenas estar distante.
Dos circunstantes espero apenas testemunhas,
como transeuntes em calçadas frescas,
calcadas de ainda há pouco.
Dos terrenos baldios fantasio apenas trangressores,
e sorteio minhas certezas pela paisagem,
torcendo descontente pelas metáforas.
Das omissões almejo apenas o anonimato,
e dos números espero virtudes e não quantidades.
Do absurdo sinto apenas o sabor fonético
e a sinestesia feita uma imagem imprecisa.
Das deduções desejo anestesia passageira
e intuindo a desejar a anistia de uma melodia cantável.
Das conseqüências aprecio apenas a delicadeza,
embora queira o vasto a sós com despudor.


E das iminências quero viver para prescindir do presente
e tanger reflexos para poder abraçar a solidão...

domingo, 4 de janeiro de 2009

Terço feito em contas

Faço, como fácil de contas,
um terço de ter-se perdido;
no que tê-lo é só ter fingido
o haver-se escapado das pontas

dos dedos. Terço é haver temido,
ter são medos, ao fim das contas
todos nós fazemos de conta
de que orar nos fez vencidos.

Se ater só ao tato em textura
é tanto quanto haver tocado,
e, entanto, ter é, algo impura,

de uma forma já ter passado.
Um terço é só uma conta dura
em contas de sofrer calado.