quinta-feira, 18 de junho de 2009

Samsara

A noite é adocicada de ruas vazias,
de feito velas que irrigam a cidade de acontecer
- de se incendeiam fatos, o céu troveja como quem cospe.
Desencadeado...

Descarrilho-me como a quem foge o destino por inépcia.
Sou séptico à possibilidade como anteontem e desde amanhã.

Os vultos vulgarizam-se transeuntes,
perfilados automaticamente diante do fio da meada;
todos se espreitam como se suspeitassem encontrar.

Saiba que o Sul é um fator que raramente consta em devaneios:
derive a contabilidade da providência divina.

A luz preambula poste após poste a pés as esquinas.
Toda paralela é uma distância andável do infinito.
Os cruzamentos perambulam motivos urbanos para dilemas nos retornos;
irresoluções cotidianas como metáforas pouco-familiares
- que se contornam como quem segue reto por princípio.
Os sinais soturnos infectam a opção por se poder transgredir em benefício.
Corra como quem peca por avidez e reze contrições em trânsito.
Os prédios vergastam silhueta em azul, como se supusessem limites no detalhe.

Envergo de espetáculo diante de aplausos de chuva...
Invejo estar molhado através do vidro.

Suplico por um abraço que só uma estátua me pôde dar.

O vento viceja avenidas - venha por esforço velejar no atrito,
caia por terra no átrio de Gaia,
mas precaveja-se com uma pá.

O bordado citadino dos edifícios pode ser edificante numa civilização de gala,
mas não se esqueça de se queixar dos costumes.

Convide a cidade para jantar à luz de velas, mas esteja lá à hora marcada.

2 comentários:

Carolina disse...

Esse texto me deu vontade de dar uma volta numa noite escura, com casaco quentinho, como quem nada quer, como quem só perambula...
roni, roni!
beijos

Carolina disse...

Li de novo, e agora já o vi diferente. Entendi uma urgência "libertadora"...