quinta-feira, 5 de abril de 2012

palavra feito coisa

chove como chuva.
no insulamento da marquise
há uma propensão íntima ao tabagismo,
uma intimidade velada em se compartilhar a sombra
contra a luz dos postes de rua.

ele mente.
a mentira é sedutoramente física,
facilmente coisa feito abraço, fato, laço;
e ele escolhe um guarda-chuva.

chove, de novo
(é que continua chovendo).
o guarda-chuva vai se entortando verdade,
por necessidade.

está tarde.
o tempo tem passado como nunca,
como sempre.
aquilo do que sobra ser real são roupas encharcadas,
a promessa de um guarda-chuva ali adiante,
a possibilidade de um abraço agora.

à noite, é difícil distinguir a solidão do frio,
porque tudo está escuro e
simples.
todo abraço é, afinal, uma questão de sobrevivência,
ela concorda.
é que ninguém pode viver só.

a chuva cessa
(e nas roupas continua chovendo).
a tempo, todo o guarda-chuva se torna uma toalha,
é verdade.
as toalhas são abraços solitários.

Um comentário:

João Medeiros disse...

caceta, muitos versos muito agressivos mas tinha q terminar em as toalhas são abraços solitários.