quarta-feira, 2 de julho de 2008

As três cores do vento

I. A transparência

Nuvem, serpente súbita do céu,
a vagar pela simples sutileza;
som que sussurra ao lírio a tristeza:
o vento silente

A luz, vazamento vorpal do sol,
vela no escuro e viceja no branco.
Vê, vidência! e avante o verde manto:
o vento vacante

E a natureza, o exaurido zênite
do fazer-pintar. Beleza dizer
é ser do vento. Seu soprar, prazer:
o vento distante

Ser, só se ao se ser é sentida a brisa
e então somente a brisa-sente e sopra;
ser vento e verso. A consciência recobra
o vento silente


II. A transparência

ve le geiro
nto passa
te pido gem
nto passa
ve le geiro


III. A transparência
Tremeluz a luz; um pleonasmo estagnado.
O vento trespassa suas madeixas
que não sangram e nem caem,
e nem tampouco o vento para.
Os páramos da visão: as estepes
transbordam a natureza,
porque as folhas oscilam;
e se oscilam ao vento, soam;
e se soam e oscilam, farfalham.
Mas não faz diferença.
Mesmo que não equacionasse o farfalho
ainda assim as folhas farfalhariam.

Ventar é como que respirar.
Uma expiração e inspiração dos pulmões da natureza
O vento acaricia a paisagem
(toda carícia é um dinamismo,
como a cor branca no pano)
Sem o vento a planície seria previsível
como a luz, ou um pântano escuro.
Algo que previsível porque estático
e porque estático, morto,
e por conseguinte incompreensível.

O vento pretérito é uma corda arpejada
que não mais soa, mas que se sabe
que soou porque ainda treme.
Como as pétalas murchas
de uma flor que, por isso, outrora vicejou, como o sol
obscureceu o frio e abandonará o calor.

Há um ditado nos mares:
"A calmaria é a ausência do vento."
Jamais o contrário.
Seria definir um lago
pela ausência de ondas.

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