sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Fatualidade

Quantas vezes me quiseste metafórico e sutil?

E na tua presença me acreditei inútil,
ainda que não houvesse sentido em utilidade;
porque dizer era o mesmo que cantar
e não haveria o que dizer
mas solterar encantos e sussurrar fascínios
- inefavelmente inscritos na alma.

Compartilhei os teus segredos com meus medos
e pouco me contentava convir-me forçosamente ao silêncio,
conformar teu rosto ao pranto em fantasia.
Me afeiçoei a perceber-te
através de um desfoco quimérico
em que não importa mais o que é do outro lado,
porque o outro lado não houve.

O que há é somente o estares do lado inacessível,
mesmo que estejas ao meu lado,
pois minha ficção é uma teratologia de medos e desejos que escondi sob meus olhos
e clamo, súplice, como reais para que não sinta os espinhos que me ferem,
ou tenha medo de que estes espinhos possam ser teus dedos,
feitos ameaças por mim.

E sigo perseguindo meus passos,
calçando feridas aos meus pés,
negando tempo às minhas cicatrizes,
me impondo necessidades para andar,
porque prescindir de amparo é ter de seguir.

A condição dos meus passos são violetas violentadas pelo caminho
e a condição desse meu caminho é eu estar sozinho...
E então me sinto afeito a recorrências na paisagem,
como a dinâmicas de humor em dias nublados;
e vejo que a condição de meu destino
é ser sempre circular.