quarta-feira, 23 de julho de 2008

Esqueço-me, parado, do outro lado de um espelho quebrado
- Conscientemente reflexo, reflito;
indago meus passos de hesitar caminhos conhecidos,
percorrer desvãos sem quedas,
largar-me a ventos impossíveis não por frios, mas insensíveis;
argumentando com os céus sobre certezas de chuvas.

Ralento meus passos, estremeço diante de um clímax repetido por memórias.
Rachado nas lacunas do espaço que acomodam cadências alheias,
meus passos valsam êxtases de ontem,
fadigam-se por corridas corridas
e vangloriam-se de nenhures pensarem-se então
e repensando-se se repetem, renegando-se.
Vago no outrora
- Meu pensamento indiferentemente uma calçada fresca de cimento,
e ando olhando para cima, redarguindo com o tempo.
Livre, no desforro do tempo,
todas as calçadas estão conspurcadas de meus passos.
Revolvo perjuro nas buzinas dos carros,
flerto com o silêncio como se me sorrisse de ontem,
roubo sentido às coisas, apego-me em rir-me
à irrelevância de tantos nomes despropositados,
e desatino-me em lágrimas pela coloração do asfalto.
A memória pouco a pouco toma-me de assalto mais frequente,
tecendo-se como quase contínua, como quase presente.
E vai galgando-se até a hora em que nem sequer minha rua
será mais minha.

2 comentários:

João Medeiros disse...

maravilha, mas perdeu com a formatação... sabe como é, viva a forma e abaixo a fôrma!

fabiana disse...

Adorei esse poema em especial.
'A memória pouco a pouco toma-me de assalto mais frequente,
tecendo-se como quase contínua, como quase presente.E vai galgando-se até a hora em que nem sequer minha rua será mais minha.' Imagem tão verdadeira que dói...